sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Socorro! Tô virando dramaturgo!

Alô, alô, barraqueiros! Tô de volta!

Se a pessoa tem um blog, é porque gosta de escrever e tem algo pra mostrar, pra compartilhar com os outros. Né mesmo?

Como já disse em outras postagens, eu escrevo desde pequeno. Mas há outra coisa que, certamente, anda comigo desde sempre: o sonho de ser ator.

Depois de mais de 20 anos deixando essa vontade escondida na gaveta, saí do interior de Minas para enfrentar a imensidão da capital carioca em busca disso.

Na primeira vez em que pisei em um palco, minha gente!, fiquei besta! Jamais iria imaginar que uma coisa tão simples pudesse me dar tanto prazer. Foi quase um "daqui não saio, daqui ninguém me tira!" Hahahahaha!

O caso é que, conhecendo o teatro e me descobrindo como ator, percebi que aquela vontadezinha de escrever não tinha ido embora também, mesmo que já não venha se esparramando, invadindo a cabeça sem pedir licença.

Quem me conhece sabe que eu tenho mais facilidade em escrever narrativas, em prosa. A poesia e eu não somos lá muito chegados, se é que vocês me entendem, rsrsrs. Como já imaginava que não seria mais do que um "escritor de histórias" (quando muito um poeta bissexto), fui surpreendido quando me apareceu o Leon dramaturgo! É mole? 

O bichim tá tentando ocupar um espaço por aqui, querendo mostrar serviço, mas eu ainda tô meio ressabiado - nem ator eu sou direito e já quero escrever peça? Tô doido! Então, ele resolveu escrever umas coisas curtinhas pra ver se me agrada. E é isso aí: uma coisa (o ator) puxou a outra (o dramaturgo) e o resultado, você confere aqui e agora!



(Um casal entra em cena, agitadamente, falando, dando a ideia de que uma discussão já vinha acontecendo. Os dois já aparentam estar na casa dos cinquenta anos de idade e ter, mais ou menos, uns 25 anos de casados e, por isso, têm muita intimidade entre si. Ele é mais despojado, de bermuda, camisa leve e tênis para sair. Ela, em roupas de ficar em casa, cabelo tingido, agitada. A ação se passa no quarto do casal. Ela vai em direção ao guarda-roupa, que, necessariamente, não precisa existir. Sugiro que a ação seja focada no gestual e na interpretação dos atores.)
ARMANDO (tom de desafio): Ah, mas você não vai comprar outro mesmo!
SÔNIA (irritada, já falando um pouco alto): Não se mete nisso, Armando! Não vou sair pra passar vergonha. Porque você não se intromete só nas coisas que te dizem respeito?
ARMANDO (convicto): Mas isso me diz respeito e muito!
SÔNIA (com um leve sorriso sarcástico): Ah, é?
ARMANDO: Ééééé, é sim! Não vou correr o risco de você invadir a última parte do guarda-roupa que sobrou pra eu guardar as minhas coisas.
SÔNIA (deboche): Tá com miséria, agora, Armando? (voltando ao tom seco) Você diz isso porque é homem, e roupa de homem é tudo igual! Não sabe como mulher sofre pra ficar bonita...
ARMANDO: E por causa disso, precisa entupir o armário? Se pelo menos fosse mais organizada...
SÔNIA (ameaçando avançar para discutir): Escuta aqui, Armando!...
ARMANDO (atalhando): Então, como é? Já escolheu a roupa ou não? Tem que decidir logo pra mandar o mais rápido pra lavar e passar, porque a Cleide tá de folga, se você não lembra. Além do mais, o jantar da tia Clotilde é amanhã e a gente já prometeu que iria.
SÔNIA (meio surpresa): Eu, hein? E qual a razão desse interesse todo pelo jantar da tia Clotilde? Você nunca foi chegado à velha!
ARMANDO: Não sou chegado à velha, mas sou chegado à comida que servem nos banquetes da velha. Lá sim eu posso comer de graça, o quanto eu quiser e ainda é tudo coisa boa. Diferente dos troços que você diz que cozinha... (faz uma leve expressão de desgosto)
SÔNIA (irônica): Pra quem passa tão mal com a minha comida, você está até bem gordo, né não, Armando?
ARMANDO: Queria que eu morresse de inanição, Sônia? Vou ficar pagando almoço e janta fora todo dia não, mulher. Com a sua comida, uso a lógica do purgante: o gosto é ruim, mas pelo menos, faz efeito.
SÔNIA (furiosa): Eu vou voar em você, Armando!
ARMANDO: Deixa pra voar depois de escolher o vestido. Anda logo!
SÔNIA: Se ao menos você servisse pra alguma coisa! Se ao menos você me ajudasse em vez de ficar me atormentando!
ARMANDO: Ah, é? E eu não faço nada nessa casa? Quem é que troca lâmpada, conserta chuveiro, reforma os móveis e ainda cuida do carro...? (enumerando)
SÔNIA (interrompe, incrédula): Meu Deus! E você acha muito isso, Armando? Pai eterno, em que buraco eu fui me enfiar.
ARMANDO: O buraco parecia muito cômodo quando o vô Rafael tava pra morrer e o boato na família era de que ele ia deixar a maior parte da herança pra mim, né?
SÔNIA (aponta o dedo e se aproxima, ameaçadora): Nem se atreva a insinuar que eu me casei com você por interesse! (suaviza) Eu casei... porque te amava!
ARMANDO: Mas vivia dizendo que, “se casar comigo era como um investimento na bolsa”.
SÔNIA: Mas acabei aplicando na poupança, veio Fernando Collor e “créu”. Adiantou? (se afasta)
ARMANDO: Pra quem passa tão mal, casada comigo, você está até bem...
SÔNIA (interrompe bruscamente): Não ouse terminar essa frase, Armando! Te jogo esse sapato no meio da cara.
ARMANDO: Aproveita e joga logo o vestido que você vai usar no jantar da tia Clotilde, Sônia. Anda logo.
SÔNIA (com impaciência): Para de me apressar, Armando! Eu não tenho NADA, NADA pra usar, nesse guarda-roupa!
ARMANDO: Como não? E o vestido verde que te dei em janeiro?
SÔNIA (tom de informação óbvia): Presente de aniversário de casamento, né, Armando? Usei quando a gente saiu!
ARMANDO: E aquele longo prateado, meio brilhante?
SÔNIA: Usei no casamento da Susana!
(Armando, pensativo, passeia pelo quarto e se volta para a esposa, sugerindo)
ARMANDO: E um amarelo, que eu comprei pra você naquela viagem...?
SÔNIA: Nem sei onde tá! (dá de ombros) Tem, pelo menos, uns dez anos que não uso aquilo!
ARMANDO (volta-se, meio tímido): E aquele azul escuro, de mangas compridas. É bonito...
SÔNIA (abismada): Tá doido, Armando? Esse eu usei justo no casamento da Helena, filha da tia Clotilde!
ARMANDO: E o que é que tem?
SÔNIA (impaciente): Como “o que é que tem”? Usar a roupa do casamento da filha no jantar da mãe? Nem morta!
ARMANDO: E quem vai lembrar disso, Sônia?
SÔNIA: Eu estou nas fotos com ele!
ARMANDO: E quem vê um monte de foto velha hoje em dia?
SÔNIA: Eu! Outro dia mesmo, estava vendo umas fotos nossas, de quando a gente casou. Ah, Armando, você era tão bonito... pena que tá ficando careca.
ARMANDO: E você, ficando gor...
SÔNIA (interrompe): Armando, não me provoque!
(Armando vem para o centro do palco, rapidamente, se aproximando de onde Sônia está)
ARMANDO (sem paciência): Então, não me enche, Sônia! Escolhe logo a droga desse vestido, que eu já perdi uma hora nesse bate boca idiota com você!
SÔNIA: Mas você é delicado igual a um coice de mula, Armando! Não acredito! Não acredito, mesmo! Será que você não pode, uma vez, uma vez que seja, mostrar um mínimo de cordialidade e compreensão comigo, Armando? Será que vou ter que olhar pra você toda vez e pensar “Meu Deus, que foi que eu vi de bom naquele traste”?
ARMANDO (irônico): Ah, se seu problema é ficar com a culpa de não saber o que viu em mim pra se casar comigo, se preocupe não. Eu também já pensei isso, mas sei exatamente o que foi que eu vi de bom em você!
SÔNIA (se aproxima de Armando, curiosa): E... o que foi?
ARMANDO (direto): A bunda!
(Armando sai, deixando Sônia de boca aberta, no centro de palco)

FIM

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E aí, o que acharam? 

Se vierem o 2, o 3 e outros, vocês querem?

Posso arriscar?

Comentem aí! Quero o retorno de vocês!

Abração, e até!

5 comentários:

  1. Olá, gostava bastante das suas histórias de Divergências conjugais. Continue.
    PS: Não encontrei as antigas histórias, não sei se era de Divergências conjugais, mas eram histórias com falas de casais, se não me engano. Obrigada.

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    1. Olá, Sâmara!
      Obrigado por voltar ao blog.
      Este post, em que estamos conversando, é o Divergências 1, rsrsrs.
      O Divergências Conjugais nº2 é este aqui: http://barracodoleon.blogspot.com/2014/12/divergencias-conjugais-n-2.html
      Não cheguei a publicar outros, mas sei que há coisas legais no blog que podem chamar sua atenção também!
      Continue com a gente!
      Abração!

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  2. Ok, entendi. rsrs Estava acessando o blog pelo celular, era um pouco ruim de encontrar as coisas. Pelo not é bem melhor.
    Obrigada! ^^

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  3. Até tinha comentado lá no Divergências Conjugais n°2, né! Era esse que eu tinha falado que tinha gostado. Confundindo tudo aqui... rsrs
    Valeu. ;)

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    1. Tranquilo, Sâmara!
      Mas, peraí: só gostou do outro? Não gostou deste? :)
      Obrigado por acessar!

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